no dia da água – “janela de maré”, poema de Maria Toscano

(…)

 

 

 

 

 

o medo – esse reverso das marés,

seu inimigo mais vil e dissimulado –

é governado pela voz insegura

pelos incertos passos onde a hesitação

vai buscar embalo certo e acalento.

– pois só se dá à vida o que de vida se habite

e o habitáculo do vivente respira corajoso.

.

.

sou mais uma entrega da maré

e porque venho pela mão do oceano

liberto, logo à chegada, a resistência,

força contrária ao rumo do desapego

– pois só se dá à vida o que de vida se habite

e o habitáculo do vivente desliza vagaroso

pelo líquido amniótico da entrega.

.

.

sou mais uma entrega da maré

e porque chego pelo mover das vagas

abdico de todo o gesto oponente

ou rival da delicada oscilação

– pois só se dá à vida o que de vida se habite

e o movimento do vivente germina cuidadoso

pelo líquido amniótico da entrega.

(…)

Figueira da Foz. Casa do Caes. 14 e 22 Novembro /2015.

.

fragmento do poema ‘janela de maré’ de ‘porto de prata. Livro Primeiro. In Colectânea Ciclo da Prata. 5 Livros de Poesia de maria Toscano.. Coimbra, Palimage ed. Dez/2017: pp. 14-15.

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