Blog Maria Toscano

COMO e PORQUE Escrevo (2109) – recortes de uma entrevista que me fizeram e nunca vi a publicação

COMO e PORQUE Escrevo (2109) – recortes de uma entrevista que me fizeram e nunca vi a publicação

De uma entrevista que me fizeram sobre o COMO e o PORQUÊ da minha Escrita – e de que nunca vi a publicação nem soube o destino (era para uma pesquisa, creio) – partilho aqui algumas das minhas afirmações que poderão interessar quem escreve, quem quer escrever e , mesmo, quem não escreve mas gosta de ler 🙂

[renumerei e personalizei os ítens abordados ]


 

  1. Como começar o dia (rotina matinal?)

“A minha rotina matinal varia muito em função das actividades que tenho em mãos

– pesquisa sociológica de campo ou gabinete; aulas; formação; espectáculos de leitura encenada ou de canto; oficinas criativas; sessões de Coaching…

Como tal, varia e depende da actividade e do próprio local onde estou a residir.

Como a actividade de escritora não é a fonte dos meus rendimentos, sou condicionada pelos horários das actividades ‘laborais’.

Quando estou livre de horários externos e focada só na escrita, sim, tenho uma rotina matinal: meditação breve, pequeno-almoço, duche, passear as cadelas, tomar café e ler um pouco.

O meu horário nobre para escrever é das 17h em diante… pela noite dentro (repito: quando estou livre de horários externos e focada só na escrita,…).

Esta condição é o pressuposto e contexto de reflexão de quase todas as respostas que dou a seguir”


 

2. Ritmo, horários e meta de escrita diária?

“- escrevo diariamente (registo poético) desde os 11 anos; não me deito para dormir sem escrever

– quando concentrada só na escrita, as metas variam em função do tipo de escrita:

Escrita académica (teses, artigos) – sempre sujeita a cronograma e datas muito precisas para terminar e enviar para publicação;

Escrita literária espontânea, mecânica – muito imprevisível, diariamente costumo fruir este estado (por minutos, só numa pista ou por meia hora de escrita rápida); sendo que há períodos em que é mais intensificado e pode ocupar-me horas sucessivas

Escrita literária trabalhada/revista – sempre sujeita a cronograma: a meta é mais clara quando escrevo prosa (romance ou contos), pois o plano de escrita/enredo e a construção dos personagens obrigam a muito rigor no cumprimento daquele plano ( o que não impede de haver ‘fugas’ e improvisos depois revistos). No caso da poesia, esta meta é muito clara quando me proponho rever uma colectânea de textos, organizar um livro ou quando me foco numa temática que quero abordar e , como ainda o não fiz no registo ‘espontâneo’, me obrigo a planificar objectivos, conteúdos, tópicos e outros ‘ingredientes’ (às vezes, o tipo de poema, ex.º: longo, contínuo ou poemas vários…) do processo que depois procuro concretizar.”


3. processo de escrita: notas, dificuldade de começar, pesquisa para a escrita?

“A escrita da Poesia é a grande Investigação.

Quanto aos 3 tipos de escrita de que falei antes

– na Escrita académica (teses, artigos), a pesquisa está formalizada (não vou entrar aqui nas metodologias de pesquisa das ciências sociais  J  )

– na Escrita literária espontânea, mecânica , as notas podem confundir-se com pesquisa SE derem origem a uma escrita revista/organizada

– na Escrita literária trabalhada/revista – a pesquisa é quase sempre anterior, prévia, à construção e à revisão”


4. lidar com ‘travas da escrita’, procrastinação, medo de não corresponder às expectativas e ansiedade de trabalhar em projetos longos

“Não vivo sem escrever.

Procrastinação não conheço no processo de escrita.

Corresponder não é um objectivo do meu processo de escrita: ao escrever, viso provocar emoções, sensações e conhecimentos e insights (nos outros e em mim). Viso o novo, logo, não corresponder…

A ESCRITA é um processo longo, na minha vida, desde os 11 anos.

A grande ‘trava’ da escrita, para mim, é SE algum dia deixar de conseguir fazê-lo.”


 

5. Revisões dos textos? Procura de críticas externas? 

“quando estou livre de horários externos e focada só na escrita,…).

A revisão é dura e pode ser muito obsessiva., variando consoante o tipo de escrita (3 tipos, como venho referindo):

Escrita académica (teses, artigos) – inúmeras vezes, até à exaustão;

Escrita literária espontânea, mecânica – só é revista quando lhe confiro lugar e direito (valor) de ser trabalhada; posso acumular cadernos de escrita espontânea sem a ela ter voltado para trabalhar (só para reler ou me ‘entrosar’/embebedar/induzir  n/aquele estado.

Escrita literária trabalhada/revista – muito cuidada.

Tenho por hábito dar a ler e a rever a outras pessoas, sim. É fundamental!”


6. relação com a tecnologia: s rascunhos à mão ou no computador?

“Escrevo com todos os meios: caderninhos (que sempre tenho comigo), folhas soltas que apanho/arranjo de-repente (guardanapos de papel, bilhetes de comboio ou cinema… o que calhar), notas do iphone (uso muito , cada vez mais) e computador.

E na revisão também: gosto de imprimir e corrigir à mão e voltar a corrigir ao pc e imprimir e corrigir à mão até já não fazer alterações.

A escrita à mão é muito importante: permite proximidade e intimidade (os epistemólogos das abordagens compreensivas abordam isto muito bem); a escrita em iphone ou pc é muito útil pela distanciação que permite (como a máquina de escrever, dantes – e que ainda usei nos anos 70…)”


 

7. De onde vêm as ideias? hábitos para estimular a criatividade?

“VIVER! esse o conjunto de hábitos;

de entre eles – do viver – saliento: CONTEMPLAR. LER.

OBSERVAR as pessoas no QUOTIDIANO.

OUVIR e SENTIR  e REFLECTIR e QUESTIONAR.

E…

CONTEMPLAR. LER. CONTEMPLAR. LER. CONTEMPLAR. LER.”


8. O que mudou no processo de escrita ao longo dos anos? O que diria a mim mesma se pudesse voltar à escrita dos primeiros textos?

” 🙂 mudaram:

a exigência – maior;

a entrega – maior;

a consciência – maior – do que não sei e ainda não li – maior;

a confiança na/ a entrega à palavra: deixar-me ir atrás das palavras que me ‘assaltam’ –  maior;

o que me diria se pudesse voltar à escrita de meus primeiros textos: “deixa-te de rimas, lê e escreve!” 🙂 ”


 

  • Sugestões de nomes para futuras entrevistas?

 

“Pelo menos:

– Fernando Franco

– Maria Emília Santos

– Victor Oliveira Mateus

– Rui Miguel Fragas / pseudónimo de Rui Féteira

a todos pode aceder pelo facebook; nem de todos tenho email: pelo messenger, em mensagem privada, acederá bem.”


 

 

Ser Escritora: sobre Escritas e Palavra – Balanço de 2018

Ser Escritora: sobre Escritas e Palavra – Balanço de 2018

RETIDO num rascunho adiado, vem à luz já em 2021, este texto meu de 2018.

Coíbo-me de o corrigir e adequar ao contexto da pandemia:  subscrevo tudo o que se refere ao acto e âmbitos da escrita; a pandemia veio exigir menos co-presença sem reduzir a importância de escrever e revolucionando em absoluto o lugar da escrita e das relações on line.

Tenho, só, de acrescer um dado que o final deste texto referia: ” 2019 é o 22.º ano como escritora editada ” – e, por isso, foi editada pela Labirinto Editora, a obra

Digna Irreverência. Brava Comoção/ Digna Irreverencia. Aguerrida Comoción. ANTOLOGIA BILINGUE. 22 anos, 22 poemas. Tradução: Jacqueline Alencar. Preâmbulo: Leocádia Regalo. Editora Labirinto, Col. Contramaré.  Outubro.

Que também assumo e vos recomendo: que nada fique nos rascunhos: Viva 2021 !”

“Escrever é uma incontornável actividade que me coloca, sempre, na relação com ‘o outro’ e com o mundo – a partir de mim, pois só a partir de mim vivo, embora possa inventar múltiplos narradores.
Assim, quando escrevo no ( como narrador) masculino ou como ‘puta’ ou como escrava ou como ‘Deus’ etc, NÃO É da minha vida que falo: é a partir de mim que falo-escrevo sobre essas vidas-vivências para provocar-criar.
O quê? Emoções, sentimentos, perspectivas, pontos de vista, consciencializações, efeitos de espelho,
confrontos íntimos, reacções, conforto, desconforto, empatia, repulsa — criar , em quem ler, um estado ou olhar forte. Por isto escrevo Literatura – Poesia e Prosa.
Distintos são os motivos da minha escrita sociológica ( olhar científico); e dos meus contributos recentes para a PNL e o trabalho enquanto Coach; como distintos são das notas ou posts de tomada de posição e de animação dos meus murais nas redes sociais; e, é claro, da comunicação inter-pessoal por mensagens – que declino sempre a favor da comunicação por co-presença física ou telefónica-via video, quando possível.
Estes tão distantes objectivos e pontos de partida das várias ESCRITAS que pratico estão muito bem integrados dentro de mim: se os não praticasse é que eu não seria uma pessoa integrada – seria incompleta, limitada e, por isso, infeliz.
Percebe-se que seja este o motivo pelo qual anoto sempre segundo que ‘voz’ assino o que publico – quando indico ‘Escritora’ ou ‘Socióloga’ ou ‘Coach PNL’ é para se entender de que ‘plataforma’ vos contacto; é para clarificar com que objectivo e com que recursos estou a comunicar.
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Desconheço – e nem admitiria , se acaso mo pedissem – temas tabu ou assuntos proibidos à minha Escrita, seja ela qual fôr.
Do mesmo modo que coloco total verdade no uso que faço da Palavra Falada.
“Espada e Rosa ”.
“Pulso de ferro, mão de veludo” – estas metáforas ( consagradas como lemas, até por altas entidades do conhecimento ) resumem bem essa busca de verdade pela Palavra, que é um Modo de Agir e Ser.
Se elogio ( a ‘rosa’ ou a ‘mão de veludo’), faço-o por imperativo da minha verdade.
Se questiono ou discordo ( a “espada” ou o “pulso de ferro’), é também o mesmo imperativo de verdade que, no limite, visa a justiça.
Ora, segundo algumas Filosofias, Verdade e Justiça SÃO o estado máximo da Beleza.
Assim, Verdade, Justiça e Beleza – reptos e altos valores da minha Vida que busco incansavelmente – TAMBÉM através das Escritas ( e dos vário narradores e autoridades que acciono); e através das Conversas – modo de me Viver pelas Palavras.
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2018 foi um ano em que muito lavrei a Palavra – com expressão, sobretudo, nos 2 trabalhos sociológicos que apresentei no Congresso ibero-americano de Junho (Fortaleza, Br); pelos inéditos e rascunhos literários que arrisquei na minha página do facebook [https://www.facebook.com/emetoscano]; e em torno do desenvolvimento pessoal e do alto desempenho [ https://www.facebook.com/MariaToscano CoachPNL/?modal=admin_todo_tour- ].
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2019 é o 22.º ano como escritora editada.
Votos de que seja um ano tão ou mais frutífero para mim e todos os meus leitores.
Viva a Palavra – a nossa Pátria, mesmo que inconscientemente…
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Maria Toscano. Escritora.
Av. da Liberdade, Lisboa – cidade branca.
30 Dezembro/2018.
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NOTA: para quem se interesse – e do ponto de vista do conhecimento e das ciências sociais e da comunicaçào -, na minha tese de doutoramento encontra um ponto relativo especificamente aos distintos tipos de escrita: é só pesquisar pelo meu apelido, no Repositório ISCTE-IUL e, no vol I, procurar no Índice.