Blog Maria Toscano

‘anunciando a lua cheia e o fulgor da brasa do sol’ poema pela Primavera de 2018 – 20 Março, 16:00hs

‘anunciando a lua cheia e o fulgor da brasa do sol’ poema pela Primavera de 2018 – 20 Março, 16:00hs

.

uma névoa a ligar teu pulso a meus dedos a unir meus dedos a

teu pulso a juntar esta mão, até há pouco minha, a essa mão, até

há pouco tua.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

um raso laivo a maresia, uma brisa ou bruma cálida, vagabundeando

pelo verão, anunciando a lua cheia e o fulgor da brasa

do sol, digo, dos sóis que são nossos corações, abrasados de mel.

 

porque há uma chuva de mel, uma rasa maré dourada, digo, de

prata dourada, pois se todo o sal aqui se converte à prata, mais

nenhum outro travo sobrevive sem o mel, o teu mel, o meu mel,

o mel, esse, que até há pouco era pobre e tristonho, de tão só.

porque a lua nova me aconchega.

porque a lua nova te resguarda.

 

uma memória única e nova – disse, memória nova, pois tudo

o que sei e recordo nada é comparado com o lume e o raspar da

dança de nossos dedos, até aqui meus, até aqui, teus.

porque a lua é nova eu nasço.

 

um perfume, apenas um perfume eivado de energia

e vibração.

 

podia fechar os olhos e reconheceria o teu doce enlace com ar com

oxigénio entre as polpas dos nossos dedos.

 

uma descoberta, um sentimento de alerta e curiosidade intensas,

um misto de distância objectiva e fusão irracional sem travão.

 

um gesto a descompor o gesto prisioneiro dos dias.

pode morrer todo o movimento.

deste luar – deste tocar –

nunca mais serei desprovida.

.

Maria Toscano.

[escrito na Figueira da Foz. Casa do Caes. 18-19 Junho /2015.]

In “mel de prata. Livro Quarto.” – Ciclo da Prata. 5 Livros de Poesia.Colectânea. Palimage ed. Dezembro/2017, pp. 86-87.

imagem: Maria Toscano. Campo Maior. casa da avó Amália. 3 Agosto/2014. [captação por Iphone]

uma poética do quotidiano – Graça Capinha sobre colectânea Ciclo da Prata de Maria Toscano

uma poética do quotidiano – Graça Capinha sobre colectânea Ciclo da Prata de Maria Toscano

“Outro poeta de que eu me lembrei muito a propósito desta poesia e que me lembra sempre muito é William Williams,

ou seja, um poeta modernista do início do séc. XX que defende, exactamente,

uma estética do quotidiano, uma poética do quotidiano.

Eu acho que é isso também que encontramos neste livro.

Há aqui realmente uma ênfase muito grande no sentido do lugar

que é reforçado pela própria identificação do espaço,

do lugar em que o texto foi criado.

.

Prof.ª Doutora Graça Capinha da Fac. Letras da Universidade de Coimbra.

Fragmentos da sua Apresentação expressamente vídeo-gravada (27 minutos) para o lançamento da Colectânea Ciclo da Prata

em Coimbra na Casa da Escrita, a 8 Dezembro/2017.

poema inaugural da Colectânea ‘Ciclo da Prata’

poema inaugural da Colectânea ‘Ciclo da Prata’

 

venho oferecer-te o poema aguado e liso

povoado de horizontes de sul e sol

recheado de correntes vagas e ondas

alagado de parcimoniosos oceanos

no ir e vir do sal e das marés.

oceanos aquosos de heróis e piratas

hipnotizados por cabelos sorrisos

e os lábios carnudos de morango e azul

de encantadoras deusas e heroínas.

 

 

venho oferecer-te o poema mais platinado/

o mais gozoso poema da claridade/

entre os clarões fundadores da poesia./

ofereço-te uma inscrição no olhar/

um verso desenhado passo-a-passo, devagar/

irrequieto no andamento. delicado no estar./

insaciável no arco do desejo, no gesto de abarcar/

continuadamente constante, contínuo/

no ir e vir das marés de amor e sal/

esse oceano amoroso embutido de diamantes/

e letrinhas prateadas com que te entrego este poema/

 

hipnotizado pelos teus lábios carnudos/

de morango, cereja e horizontes de sol./

 

Figueira da Foz. Emanha. 30 Maio /2015.

porto de prata. Livro Primeiro. In Colectânea ‘Ciclo da Prata. 5 Livros de Poesia’. Palimage ed. Dezembro/2017.